quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O leitor



A primeira impressão do filme “O leitor” (EUA/Alemanha, 2008), do diretor Stephen Daldry, é de uma obra feita para concorrer ao Oscar. Digo isso porque as cenas iniciais dão a sensação de que o filme irá investir no drama fácil ou cair no comodismo de comover para se tornar um grande filme.
Esta impressão, no entanto, vai se diluindo nas sutilezas da trama. O primeiro indício disso é a forma como são abordados o nazismo e o analfabetismo. Nada de cenas de genocídio ou de passividade do analfabeto, o que vemos é uma leveza no trato destes temas. Até as cenas de sexo são de uma delicadeza e de uma beleza plástica que suavizam o assombro que poderia causar a relação sexual entre uma mulher (Hanna Schmitz, Kate Winslet) e um garoto (Michael, David Kross).
A relação entre Hanna e Michael, porém, não inicia com as acrobacias eróticas.
Eles se conhecem quando ele está em uma situação de fragilidade, o que passa a sensação de que se estabelecerá entre eles apenas uma relação maternal. Mas, aos poucos, o lado edipiano vai se desenvolvendo e a sensualidade e a afetividade vão marcando o ritmo dos encontros quase diários dos dois. Neste ponto, contudo, há uma outra reviravolta, a leitura passa a duelar com o sexo no romance dos dois. É aí que uma relação muito próxima da paternal aparece. Dessa vez, Hanna se torna mais frágil, mais emotiva, diante do universo estético que se descortina para ela por meio das mãos do leitor (o garoto).
A intertextualidade com a literatura, inclusive, é o que indica que nos grandes romances o herói sempre guarda um segredo. E é a revelação desse segredo unicamente para o público, e não para o restante dos personagens, que garante uma cumplicidade muito grande com o espectador.
Se por um lado a cumplicidade garante uma empatia forte com o espectador, por outro, ela me permite dizer que o ar de grandiloquência ainda permanece. Apesar disso, as sutilezas e, sobretudo, as reviravoltas e revelações dão a “O leitor” uma aura de grande filme (perdoe-me Benjamin, não o Button, mas o Walter).

domingo, 1 de fevereiro de 2009

O curioso caso de Benjamin Button


“O curioso caso de Benjamin Button” (EUA, 2008) do diretor David Fincher, baseado num conto de F. Scott Fitzgerald, narra a história de um homem (Benjamin Button, interpretado por Brad Pitt) que nasce velho e, consequentemente, se torna mais jovem com o passar dos anos.
Apesar de a narrativa ter início pelo caso do relógio construído para andar em sentido anti-horário, indicando uma relação com o nascimento de uma criança-velha, não há nenhum elemento no filme que aponte para uma ligação mais íntima entre o relógio e Button. Em outras palavras, a narrativa dramática do “Curioso caso de Benjamin Button” se insere no nível do fantástico, dado que não há uma explicação, nem científica, nem alógica, para aquele acontecimento.
O mundo de Benjamin Button, aliás, não é nada diferente do nosso, com o único detalhe de que o personagem principal é um jovem-velho que está habituado, desde seus primeiros grunhidos, à presença da morte.
A morte, portanto, é um dos poucos elementos que torna a vida de Button um pouco diferente da nossa – se ela o acompanha de perto no momento em que ele é um jovem-velho, ela se torna ainda mais presente quando ele se transforma num velho-jovem, pois a juventude para ele é o caminho para a morte.
Com exceção da inversão das fases da vida no caso de Button, de resto, boa parte dos problemas e sentimentos comuns a todos os humanos é vivido por ele: medo, amor e solidão. A diferença é que Benjamin chega à juventude com maturidade, o que lhe permite, de um lado, encarar o amor com mais serenidade e, de outro, ter a consciência de que a juventude, em tais circunstâncias, se torna um fardo para as pessoas que o cercam e, sobretudo, para ele mesmo.
Esta problemática é o que imprime a maior carga de emotividade ao filme, que consegue segurar o ritmo da narrativa até o auge da juventude de Button. Quando se aproxima do fim, o filme perde a cadência, se torna enfadonho e incorre em alguns clichês (como as duas aparições de um beija-flor após a morte de dois personagens). “O curioso caso de Benjamin Button” pecou por ter se alongado além do necessário. Mesmo assim, o filme vale a pena pela fotografia, pela leveza e pelas atuações de Brad Pitt e Cate Blanchett (Daisy). Em tempos de excessos e acessos de juventude, uma bela lição de que interferir nas leis da vida não nos livra do fim inevitável.