“Ensaio sobre a cegueira”, do diretor Fernando Meirelles, não é nenhuma obra-prima, mas é um filme que supera muito bem alguns dos problemas comuns ao cinema.
Em primeiro lugar, ele não se rende aos clichês relacionados à cegueira. É claro que a utilização da tela branca para representá-la é algo já indicado no romance de José Saramago (lá, a cegueira dos personagens não é caracterizada pela ausência de luz, porém, pela presença de uma claridade igualmente vazia de cores e formas); contudo, o modo como a brancura da tela é conduzida, produz um real incômodo na visão do espectador. Ou seja, o golpe abrupto da passagem de uma cena convencional para a tela branca desperta a empatia do espectador que passa a sentir a angústia dos personagens.
Esta sensação é aumentada pelo recurso do pontilismo que aparece em boa parte das cenas (ou em quase todas).
Tudo isso é empregado na medida certa, sem exageros que desviem o espectador do drama que se desenrola no filme.
Em segundo lugar, as cenas mais violentas (aquelas que deixam o espectador envergonhado da sua eterna condição de semi-selvagem) são estrategicamente intercaladas com algumas pinceladas de humor que aliviam bastante a tensão dos músculos.
O maior alívio, no entanto, surge em uma das cenas mais pesadas e ao mesmo tempo mais necessárias do filme. É justamente o momento cartático, quando o espectador expurga boa parte do ódio que vinha acumulando. A única falha, neste aspecto, é que a cena seria menos previsível se o instrumento da violência não tivesse sido mostrado antes.
Apesar deste equívoco, o filme é muito bem conduzido e consegue demonstrar a que ponto chegaríamos se fôssemos seqüestrados pelos instintos, se eles passassem ainda mais a comandar nossas vidas. Aqui, ainda cabe a posição quadrúpede do texto anterior, mas dessa vez estaremos mais cabisbaixos...
Em primeiro lugar, ele não se rende aos clichês relacionados à cegueira. É claro que a utilização da tela branca para representá-la é algo já indicado no romance de José Saramago (lá, a cegueira dos personagens não é caracterizada pela ausência de luz, porém, pela presença de uma claridade igualmente vazia de cores e formas); contudo, o modo como a brancura da tela é conduzida, produz um real incômodo na visão do espectador. Ou seja, o golpe abrupto da passagem de uma cena convencional para a tela branca desperta a empatia do espectador que passa a sentir a angústia dos personagens.
Esta sensação é aumentada pelo recurso do pontilismo que aparece em boa parte das cenas (ou em quase todas).
Tudo isso é empregado na medida certa, sem exageros que desviem o espectador do drama que se desenrola no filme.
Em segundo lugar, as cenas mais violentas (aquelas que deixam o espectador envergonhado da sua eterna condição de semi-selvagem) são estrategicamente intercaladas com algumas pinceladas de humor que aliviam bastante a tensão dos músculos.
O maior alívio, no entanto, surge em uma das cenas mais pesadas e ao mesmo tempo mais necessárias do filme. É justamente o momento cartático, quando o espectador expurga boa parte do ódio que vinha acumulando. A única falha, neste aspecto, é que a cena seria menos previsível se o instrumento da violência não tivesse sido mostrado antes.
Apesar deste equívoco, o filme é muito bem conduzido e consegue demonstrar a que ponto chegaríamos se fôssemos seqüestrados pelos instintos, se eles passassem ainda mais a comandar nossas vidas. Aqui, ainda cabe a posição quadrúpede do texto anterior, mas dessa vez estaremos mais cabisbaixos...
10 comentários:
Carol, tua observação arguta me fez ver melhor o filme. Considero esta a verdadeira função da crítica. Além disso, v. escreve muito bem, num texto leve, atraente, sedutor. Nós,desde já, seus leitores, queremos mais. Beijo.
Anônimo o carai... Sou eu, Carol, o Amador. Vamos ver se agora meu nome aparece com todas as letras, hehehehe... Beijo.
Obrigada, Amador. Um elogio vindo de vc é sempre um elogio em caps lock (rs). Beijão.
Deve-se acrescentar que, como poucos, o filme é bem fiel ao livro, deixando algumas cenas, que seriam 'áridas' demais, mais leves com as intercaladas, como você comentou.
Eu gostei muito do filme, bem como do livro, admitindo que NUNCA é a mesma coisa.
Ps.: Estou disputando o posto de fã nº0 com Daniel, certamente, mas vou lutar bravamente por ele, hein!
Beijão!
Mila, ainda não tive a oportunidade de ler o livro. Mas, pretendo fazer isso em breve. Beijão.
Aquela sensação silenciosa e beneficamente incômoda de todos, ao sair da projeção, acaba de ser explicada aqui. Saímos do simbólico do audiovisual e somos trazidos à condição dos personagens. Inquietante.
Eita.. ainda to terminando de ler o livro.. e depois irei ver o filme... mas as sensações que descreveu... aparece exatamente escritas na palavras de saramago...
otimo texto...
bjosss
OBS: esperando o proximo...
A palavra é essa mesmo, anônimo, inquietante!! Valeu pela visita.
Bom saber disso, Ciba. Eu vou fazer o caminho inverso. Beijão.
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