segunda-feira, 26 de abril de 2010

As Melhores Coisas do Mundo

O filme “As Melhores Coisas do Mundo” (Brasil, 2010) de Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças e Chega de Saudade) inicia como uma novela teen aparentemente rasa.

Cada nova cena, porém, assim como cada dobra de um origami, revela um aspecto novo e uma profundidade impensada num primeiro golpe de vista. Isso porque o universo adolescente vai se mostrando conteúdo de um vazio que os outros atribuem a ele.

O personagem principal da trama é Mano (Francisco Miguez), um adolescente de 15 anos que se vê às voltas com vários problemas, como a separação dos pais (Denise Fraga e Zé Carlos Machado), a revelação da homossexualidade do pai, a pressão dos amigos para que ele perca a virgindade e o amor não correspondido.

Laís Bodanzky consegue transmitir com naturalidade todos esses dilemas da adolescência, ao mostrar como as coisas são sentidas intensamente por eles, como um fora assume dimensões violentas a ponto de levar (à tentativa) de suicídio – tanto hoje quanto no tempo do Werther de Goethe.

E as novas tecnologias só contribuem para transformar um inferno pessoal num inferno público. O cyberbullying, então, é face de uma violência tanto simbólica quanto física.

A diretora não economiza em belas cenas, como a em que Mano e sua mãe jogam ovos na parede da cozinha. O que começa aparentemente com um clichê, a queda de um ovo num momento dramático do filme, termina com uma carga de emoção de uma espontaneidade violenta.

Alguns truques de montagem também merecem destaque. É o caso da cena em que Mano tenta digerir o fato de seu pai estar morando com outro homem. Nela, ele aparece praticamente estático e os demais personagens se movimentam numa rapidez imensa, o que imprime muito bem a diferença entre o tempo interior do personagem e o tempo externo a ele.

O filme peca, contudo, pelas atuações. Com exceção dos veteranos, aqui representados pela excelente interpretação de Denise Fraga, os demais atores têm atuações modestas.

Apesar disso, “As Melhores Coisas do Mundo” se mostra um filme sensível e espontâneo, e funciona como um microcosmo dessa pós-modernidade, em que blogs, convivem com diários de papel, cartas com emails e sms’s, e antigas e belas canções (como a Something dos Beatles) ainda embalam jovens amores.

3 comentários:

Leonardo Davino disse...

Estive na estreia e também achei o filme bastante rico em referências e temas para discussão, Carol.
Beijos

Fabiano disse...

Agora só preciso ver o filme.

Unknown disse...

Carol, ainda não vimos o filme ... Mas a sua perspectiva tah massa... Bjs Nani e Doia