O filme Invictus de Clint Eastwood (EUA, 2009) narra um momento crucial da trajetória política de Nelson Mandela. Depois do fim do apartheid e durante o seu primeiro mandato como presidente da África do Sul, Mandela – com a ajuda do capitão do time François Piennar (Matt Damon) – se esforça para tornar a seleção sul-africana de rúgbi motivo de orgulho.
A narrativa começa com um distanciamento da situação. Os espectadores são convidados a apenas observar. Nenhum sentimento de aproximação é suscitado, o que revela uma identificação com o próprio distanciamento que havia entre negros e brancos na África do Sul.
Isso, porém, é revertido no decorrer do filme, quando somos levados a compartilhar os sentimentos de igualdade (quase sobre-humanos) de Nelson Mandela (Morgan Freeman). Essa aproximação se dá a partir do momento em que o rúgbi se transforma numa estratégia política de Mandela para unificar os sul-africanos, brancos e negros. Aqui também a aproximação da narrativa representa a aproximação que o presidente sul-africano pretende realizar.
É neste momento que o filme apresenta alguns deslizes, como o de investir demais no sentimentalismo e o de criar um Mandela muito idealizado, apesar de uma ou outra cena tentar contradizer isso.
Esses deslizes, entretanto, não tiram a beleza do filme, que apresenta cenas em que o humor e a emoção não gratuita se misturam.
Eastwood muito apropriadamente escolheu um episódio emblemático do governo de Nelson Mandela, que transformou o time de rúgbi numa metáfora da nação. O orgulho, o sentimento de pertencimento e de unidade criados pela vitória da seleção sul-africana de rúgbi na Copa de Mundo (sediada pela África do Sul, em 1995) foram transferidos para a nação.
O Brasil teve um equivalente desse episódio (quando a seleção brasileira foi campeã da Copa do Mundo de Futebol, em 1970), mas com sabor de pão e circo. Se bem que por essas bandas não precisávamos tanto disso, pois os nossos brancos já eram miscigenados e os nossos índios eram antropófagos.
Um comentário:
Belo texto. Econômico e sem palavras desnecessárias. Tiremos o chapéu.
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